Parte II
Já era o fim do pôr-do-sol e as primeiras estrelas começavam a enfeitar o céu. Guiados por passos curtos eu o observava enquanto ele falava de vários supositórios que puderam ter me levado a ele. Aquele estilo social despojado, e um sorriso que não se fechava nunca, contracenavam com o encantador brilho do seu olhar. Era estranho como eu já me sentia uma velha conhecida dele. Mas ainda não sabia o seu nome.
Chegamos a outro bar, um pouco menos movimentado e ao invés de vozes e gargalhadas ouvia-se uma suave melodia, como aquelas que servem de plano de fundo para conversas apaixonadas. Sentamos e logo apareceu o garçom que utilizou-se de uma pergunta breve como se já soubesse a resposta. – Vinho? Olhou pra mim e perguntou se eu concordava. – Claro. Usei-me de uma afirmativa óbvia, sem decisões quando não se tem escolhas. Depois que fomos servidos, olhamos um para o outro e não contivemos surpresos por uma risada de não sei o que, e imagino que ele também não sabia.
– Eu sou mesmo desastrado. Primeiro me esbarro em você, convido-a para tomar algo e até agora não sei o seu nome.
- Me chamo Júlia, mas tem algum problema com o convite?
- Por que teria... Bom meu nome é Eduardo.
“Por que teria?” Se tem porquê é porque teria. E qual seria esse problema? Nessa hora milhares de coisas passaram na minha cabeça, porque realmente eu estava ali?
- Está gostando do vinho?
- O vinho? Ah sim, é realmente muito bom. Você vem sempre aqui?
- Bom, costumo vim aqui às vezes. É um lugar calmo, tranqüilo e eu gosto disso.
- E o que fazia lendo um livro em meio a tanto barulho?
- A verdade é que eu pensei que pudesse ler ali, ou frequentar outros lugares diferentes. Definitivamente ler acho que não foi uma boa ideia.
(risos)
- Você é uma moça muito bonita o que fazia sozinha ali?
- Uma amiga me chamou para sair um pouco, pensei que eu pudesse me distrair, mas, ela ligou dizendo que não dava pra ir mais.
- Chato isso.
Foi então que o telefone dele tocou, e me tocou um pouco pela suposta pessoa que ligava e o duvidoso assunto que falavam. Prefiro não entrar em detalhes agora, continuemos.
- Gosta de rosas Júlia?
- Rosas me encantam e são realmente lindas. São pedacinhos de sentimentos divididos em cores, expressam o que a gente sente sem nenhuma palavra.
- Nossa que interessante. Você sabe bem sobre as flores.
- Que isso, Eduardo. Apenas às admiro e sou apaixonada por elas, desde pequena.
- Qual a que você gosta mais?
- Bom, não tem a que eu gosto mais. Todas são lindas. Diferenciam-se no significado. A vermelha, por exemplo, significa o amor, a paixão; a branca simboliza a pureza e a inocência. Já a cor-de-rosa demonstra admiração, amizade. E a amarela é aquela em que há segundas intenções, malícia. É difícil escolher, rosas são lindas e pronto.
(risos)
- Você fala de rosas com uma delicadeza incrível, demonstra ser uma mulher muito romântica, além de parecer muito sensível também.
- Obrigada. Mas por quê a curiosidade sobre elas?
Foi então que percebi que eu podia ter deixado essa pergunta escondida em qualquer lugar, morrer de curiosidade seria melhor do que ouvi a resposta que eu tive. E cair das nuvens antes de ter certeza que alguém voava comigo.
- Amanhã eu e minha namorada faremos um ano de namoro. Eu estava desorientado sobre como encontrar algo que eu pudesse trazer junto o com presente que eu vou dá-la. Já havia pensado em flores, mas, achei algo muito comum e depois vendo a maneira como você fala delas eu mudei completamente de ideia.
Naquele momento, despencada feito um galho torto de uma árvore a minha vontade era inventar uma desculpa e sair dali de tão apavorada que eu fiquei. Mas adiantaria alguma coisa? Pelo menos eu encontrei a resposta de porquê que eu estava ali.
- Sério? Que bom que eu pude ajudar...
Depois só se passaram cinco minutos da nossa conversa. Longos e indecifráveis.
A ironia começava a querer se apresentar por toda parte. Eu virara a malvada da história? Na verdade era o que a minha decepção queria, porém não me deixei ser dominada pelo desgosto que me preenchia completamente a cada gole do vinho enquanto ele olhava-me profundamente do outro lado se decidindo quais as cores das flores que mandava a ela.
Enquanto as minhas já estavam na caixinha do correio, e só pra constar: Eram cor-de-rosa.
Evelyn Dias